domingo, 5 de setembro de 2010

LOJA DO CHINÊS












De tanta coisa que tem, ficamos com os olhos em bico.

Primeiro foram os restaurantes, que pulularam por tudo quanto é sítio e nos deram a provar; “clépe chinês”, “clépe xelado”, “alôs blanco” (ou xau xau), “massa dalôs cumgambachs”, “ananás flesco cumgambachs”, “pato àpekim”, entre algas do mar e rebentos de cana.

Da mesma forma que acreditamos que qualquer terrinha tem sempre o seu Café Central e que, ao conduzirmos de noite, existe sempre estrada à nossa frente, também somos levados a crer que qualquer cidade deste país, aberto à multiculturalidade, à integração e ao comércio internacional, tem também o seu “el corte chinês” (passe a publicidade).
São corredores e mais corredores, salas e recantos labirínticos, cruzamentos e entroncamentos de prateleiras repletas de cima abaixo de artigos variados e coloridos, que nos confundem na escolha e nos obrigam a esbarrar, quase sempre, contra uma inutilidade qualquer que está longe de nos fazer falta.

Que felicidade a nossa. Nossas Senhoras de Fátima fosforescentes, flores de plásticos sempre frescas, golfinhos em vidro transparente e outros animais da quinta, camisolas do Ronaldo (na versão CR7 e CR9), quadros com ”mariposas mumificadas”, guarda-chuvas, guarda-sóis, barretes de lã e dos outros, lingerie e babydolls para embeiçar os tolinhos, bandeiras de Portugal (com castelos às avessas), coletes reflectores em laranja e verde eléctricos, coisas de uso da casa, vasos, vasinhos e potes, tudo a preço de saldo, pilhas e baterias, telas esticadas à pressa, velas de todas as cores e cheiros (pergunte se têm de urtiga branca, ou de figueira-do-inferno) colheres de trolha e níveis, com bolha ou a laser, espanadores pró pó, (que deviam chamar-se “espanhadores”), enfim, artigos de “roupa e lar”, sempre ao melhor preço, sempre a preço de saldo. Que felicidade a nossa.

Um amigo do meu Amigo, que é cultor do bom gosto, entra sempre, pelo Natal, numa espécie de saudável competição, onde a troca de presentes entre a família mais chegada, prima curiosamente, pelo, mau gosto. Como, perguntais vossas mercês? Simples, cada um tenta surpreender o outro com a peça mais “pirosa” encontrada na loja do chinês, o que, refira-se, não é fácil, dada a quantidade e qualidade da
oferta.

E dessa forma, lá se vão surpreendendo uns aos outros. Com aquele álbum fotográfico encapado a pêlo violeta, que fica bem com a coberta da cama, o par de golfinhos azul-celeste envoltos no seu namoro aquático em contorcidas ondas de vidro que as empregadas da casa desejam partir sempre que lhe limpam o pó, bichos de pelúcia laranja e fuschia, maiores que o King Kong, canecas pró pequeno-almoço, que nos deixam sem apetite, porta-fotos esquisitos que nos cercam a cara de flores de lótus, porta-chaves estúpidos que nos furam os bolsos das calças e um sem número de pequenas pérolas do mais profundo mau gosto.

Mas eles sabem fazer bem. Devemos-lhe as palavras sábias do Confúcio, a invenção do vidro, do papel, ou da pólvora, coisas simples como a normalização da distância entre o eixo das carroças, para manter os trilhos transitáveis, enfim, deram-nos cartas.

Feriado ou dia santo, para o chinês isso “é tinto”, por isso, os “biblot-dependentes” e os “enrrascados crónicos”, podem sempre contar com o seu robótico “obligadô” na entrega do talão. (espera lá, preciso de sacos pró lixo e de uma coleira pró cão…)

A Adriana “partimpim” Calcanhoto, lá vai “refrando” na sua canção, que “chinês, só como uma vez por mês”.
Discordo, acho que são duas.

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