segunda-feira, 9 de agosto de 2010

CÃES COM PULGAS


Embora o meu vizinho assim lhe tenha posto, Matateu não é nome que se dê a um cão.

Em miúdos, todos desejamos ter um cão. Nada de gatos, que isso é felino fingido, que ronrona por entre as nossas pernas de cauda no ar, mostrando as “bolas”. Animal de “estimação” para ter como companhia, é um cão, macho de preferência e que ladre aos estranhos e sempre que batem no portão. Quanto a isso estamos falados.

Se Matateu, velha glória do futebol Belenenses, porque não dizer de “todos os tempos”, não era nome que (honestamente) se desse a um rafeiro, também “Errol Flynn” , directa homenagem ao galã de Hollywood, conhecido pelo seu papel de “Robin dos Bosques”, seria de ponderar até porque, o homem que arrasava corações, escondido naquele “bigodinho fino” de sedutor da época, teria sido bissexual, o que a ser verdade colocava em causa a sexualidade do bicho.

Não era difícil encontrar, entre estes fiéis e simpáticos animais, alguns que pela agilidade e perspicácia do olhar, nos haveriam sempre de surpreender. Pulavam cercas, seguravam bolas, levavam nos dentes as chaves de casa ou o saco do pão, sempre com compenetrada postura. Defendiam-nos dos outros cães e até daquele imbecil “burro da escola”que nos batia cobardemente, usando para nos intimidar o corpanzil gordurento criado à base de batata cozida.

No tempo em que os cães eram “mestiços”, de “cruzas” várias, que escolhiam (e fecundavam) as parceiras em plena rua, por muitas haver ao “galdério”, pouco pedigree havia. Não existia essa coisa do apartheid canino, da raça, da “marca”. Contudo, dessa mestiçagem, dessa roleta russa de genes, apareciam ninhadas de criaturas lindas.

Em tempos, tantos havia ao abandono pelas ruas, que a Câmara pelo perigo que ofereciam, tinha redes para os apanhar. Embora muitos tivessem “dono”, poucos tinham coleira e eram livres de deambular por todo o sítio. Os mais afoitos afastavam-se tanto que se “perdiam”, outros arriscavam zonas perigosas de trânsito traiçoeiro
“Sol” era o nome de um cão de caça, arguto e habilidoso entre as silvas, “Lira” o de uma cadela “maricas”, frágil e protegida, “Daktary” o cão que herdara o nome da série de televisão que tinha um zoo como cenário, tal como “Skip” em que o protagonista era um saltitante canguru. Mas havia o “Farrusco” e o “Pirussas” de pelagem curta cor de cinza, o “Pantufa” grande e desconcertante no seu corpo juvenil de labrador, o “Putchy”, de raça estranha, que embora liliputiano, parecia maior porque o pêlo farto que lhe deixaram crescer no lombo o fazia duplicar de tamanho, da “Pandora”, a boxer de olhos grandes e perscrutantes, musculada, elegante e silenciosa que se babava por tudo e por nada, para não falar do “Vai-te a ele” que “arreganhava os dentes” e uivava sempre que o atazanavam.

Hoje todos sabemos muito de raças e conseguimos visualizar o perfil do bicho. Se nos falam de um pastor alemão, lembramo-nos logo do “Max” (réplica fanhosa do “Rex”), aos “cheios de pintas”, chamamos dálmatas, porque nos recordam o filme e a maléfica Cruela, ao cachorro do “scotex”, irrompendo pelo corredor, envolto em papel higiénico, chamamos sem vacilar, labrador. E conhecemos também os basset, semelhantes a salsichas rastejantes, de orelhas a "arrojar" p'lo chão e olhos mortiços, inconfundíveis pela sua indolência, e por ai adiante, sendo que, a máxima popular, que “cão que ladra não morde”, deve ser analisada caso a caso e avaliada em função da compleição do canino e da distância dos afiados incisivos às nossas estimadas calças, até lá, e para nossa segurança, devemos manter as canelas à defesa.

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