domingo, 8 de agosto de 2010

CASAR COM QUEM AMAR

O casamento, antigamente, era um assunto sério. Hoje também se crê que seja.

Por via das “modernices”, que obrigam as políticas das nações a ajustar-se à “nova realidade social”, esta questão apresenta-se-nos, agora, um tanto ou quanto confusa.
Digamos que casar, já não é (só) aquele acto simbólico entre géneros diferentes, em que ele veste de escuro com gravata estampada a dar com o lenço e ela de vestido branco de “cauda”, com indeléveis ramagens “champagne”, belíssima e perfumada, de boquet de flores naturais, iguais às que lhe decoram a tiara que lhe prende o véu. Por debaixo do vestido justo, que lhe denuncia as formas, veste um conjunto de duas reduzidas peças – inversamente proporcionais ao preço - todo em “vermelho cerise”, com que há-de incendiar o nubente. (força rapaz…)

Hoje, não nos devemos surpreender se virmos um “casamento” diferente, daqueles onde aparecerem duas noivas perante o oficiante, ou onde não se vê noiva a acompanhar o noivo. Desculpem se estamos a trocar os pares, pois como pode muito bem acontecer, a partir de agora, tanto pode aparecer ele com ela, ele com ele ou ela com a outra, mas, a não ser que façam novo acordo ortográfico, o conceito de noivo e de noiva está perfeitamente enraizado na nossa cultura e vai levar mais tempo a adaptar do que a transição do escudo pró euro.

Mas como as sociedades tendem a adaptar-se às novas realidades… e a felicidade está no ar… como dizia o Solnado, “façam o favor de ser felizes”, cada um à sua maneira, bem entendido.
Mas, visto que não são questões de género o que aqui nos trás, mas sim de “verdadeiros casamentos”, daqueles que serviam de pretexto para juntar as famílias de ambos os lados e amigos próximos, à volta da mesa, partilhando da felicidades dos noivos e os prazeres da gula, diríamos que, noutros tempos, os casamentos eram um festim que durava 3 dias, sendo que um deles era, efectivamente, dedicado à cerimónia que, para os “lambões”, erao que menos interessava.

Tudo começava pelo convite. E não estamos a falar de papel impresso a ouro com os clássicos anéis entrelaçados sob o monograma em cursivo francês, falamos de convites na forma de pires de arroz-doce, decorados à mão com canela em pó, pelas mães e tias mais caprichosas. Do clássico desenho de linhas paralelas, formando losangos, aos círculos, marcados com o fundo de um copo, arriscavam ainda desenhar flores simples com uma ou outra pétala. Aceitar o arroz-doce, em prato de faiança ou no futurista “pirex” era comprometer-se, passados alguns meses, a partilhar a felicidade do casal (que, ao que dizem as más-línguas, já tirou as medidas a uns lençóis).


Para memória futura, do feliz enlace, haverá de constar a “fotografia do conjunto”. Noivos ao centro, pais e padrinhos imediatamente a seguir, avós também por perto, bisavós (se os houver), e demais convivas, assim dispostos na escadaria, com os putos a atazanar os pais que se esforçam para manter a compostura e o vinco dos fatos. Pior que os “cachopos” a estragar a biqueira dos sapatos (novos) na performance das suas intermináveis “birras”, só mesmo o “chato” do fotógrafo que teima em encenar aquilo a que ele próprio chama de reportagem, obrigando todos, ao seu sinal… a sorrirem.

E ala, que se faz tarde, porque o senhor padre, como sempre, se “esticou” no discurso e nos conselhos aos pombinhos e nós ali, aguentando estoicamente, com sede e fome, desejosos de ouvir o “ide em paz”. É altura de seguir para o local da boda, desapertar os laços e deixar os corpos, pouco dados a tamanho atavio, voltarem, como qualquer rio, ao seu leito natural.

A festa durará até que haja comida e a noiva comparecerá (mal dormida), como manda a regra, vestida com o “fato do segundo dia”, sorridente e feliz ainda com um “brilhozinho nos olhos”, ao que alguns “malandrecos” atribuem à noite bem passada.
O músico contratado para abrilhantar a festa, comia com a malta como se fosse da família e interrompia as “modas” sempre que os convivas davam “vivas” aos noivos, que por se sentirem agora, mais à vontade, não roborizavam com tanta frequência.

Quase tudo era confeccionado no local alugado para o efeito. Acordava-se com a cozinheira, alugava-se a palamenta, recolhiam-se estrados e bancos “corridos”, amanhavam-se as aves e outros animais de capoeira e confeccionavam-se os doces.

Por fim, cansados de tanta festa, lavava-se e arrumava-se tudo, entregava-se a chave do “salão”, pagava-se a quem se devia, devolvia-se as grades da “laranjada” e o que se pedira emprestado e esperava-se, que os noivos, que tinham a vida pela frente, fossem felizes para sempre…

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