segunda-feira, 12 de julho de 2010

BRIQUES SÃO TIJOLOS



Por altura das férias de Verão, rara era a rua, da outrora Vila, que não via estacionado um Renault ou um Peugeot de matrícula estranha, de onde sobressaía, colado no painel traseiro um autocolante com a letra “F” enquadrada por uma pequena bandeira tricolor.

Se dúvidas houvessem, quanto à origem de viatura tão moderna, seriam desfeitas logo que chegássemos ao café do bairro. Era neste local, ponto de encontro informal dos que vinham matar saudades da terra, que se ouvia, por entre o “falajar” dos nativos, o sotaque inconfundível do “franssuguês” acabado de chegar. Com ele chegou também a família, que por lá atracou depois de garantida a segurança do lar e do “travail”. Vinham perfumados e vestiam roupas “estranhas”, coloridas, ousadas até, e também pulseiras de ouro por entre o relógio, e ao pescoço, o pouco original crucifixo. Elas ousavam também, nos penteados e nas “pinturas faciais”. Nem sempre era assim, mas elas faziam limpezas para ajudar a amealhar e eles integravam o pelotão da imensa mão-de-obra que ajudou a construir certas zonas de França.

Espalharam-se por tudo o que era lugar, e para nós, que conhecíamos mal a geografia gaulesa, imaginávamos estarem todos pertos uns dos outros, ou pelo menos, que seria possível cruzarem-se por lá. É certo que fortaleceram os laços, organizando-se em associações sociais e culturais, espaços de “reflexão” para quem está longe da “pátria lusa”.

Falando alto, junto ao balcão, o “francês” expunha a anedota; num dos bidonville de Paris, onde muito portugueses (compreensivelmente) haveriam de viver até se mudarem para verdadeiras casas, alguém se lembrou de, na ponta de uma “varola”, espetada no meio do aglomerado, hastear a bandeira de Portugal, como se aquele território, dentro da cidade, fosse uma ilha com regras e língua próprias, claro, veio a polícia e mandou arrear “le drapeau bicolore”. Com os “irredutíveis gauleses” não se brinca. Depois, está por lá muito “filho de muita mãe”, “algerianos”, marroquinos, vindos como nós à procura do “el dorado”.

Das férias por cá passadas, ficava muitas vezes a lembrança, deixada na forma de uma bola de cauchut, rara por estas bandas, de gomos brancos e pretos, como as “oficiais”, com a qual haveríamos de disputar longos jogos em campos de terra solta e balizas marcadas por pedras. Passa, passa, … passa a boooola! Eh pá, já não se vê nada, amanhã jogamos mais.

Partiam como chegavam, em silêncio, agora com os carros cheios de mimos da terra, azeite e melões prá viagem. Ao revoir, que é como quem diz até pró ano oh “franciu”, quando voltares, ao passares por Badajoz, trás de lá uns caramelos daqueles que se colam aos dentes.

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