segunda-feira, 12 de julho de 2010

DEIXA ARDER, QUE O MEU PAI É BOMBEIRO






Nesta paisagem de transição onde nos integramos, que separa a nossa região do Alentejo, faz calor pra caramba. Nos dias em que os termómetros chegam aos 40, o que não é difícil nesta região ou nesta época do ano, fazem com que o alcatrão das estradas, ao longe, pareça estar molhado, miragem tremeluzente que nos confunde, como aos perdidos no deserto.

Os pastos e os campos pejados de verde e de flores espontâneas que pintam a nossa paisagem de cores mil, passam a palha seca, quase de um dia para o outro, e tornam este material altamente combustível, que qualquer “pirisca” mal apagada transforma num tapete de cinzas “em menos de um fósforo”. Dentro da cidade, os cuidados com a segurança são também para ser levados a sério e, por essa razão, palhas, madeiras, lenhas prá lareira, botijas de gás, grelhadores, barbecues e outras artes do carvão devem ser praticadas com muito cuidado, porque se o fogo pega... vamos ter de chamar os Bombeiros.

Antigamente ser bombeiro era pertencer a um grupo de homens destemidos que vestiam a farda a qualquer hora do dia ou da noite a troco de pouco mais que, nada. Incondicionalmente, e sem saber que socorro os chamava, saíam dos empregos, do café ou da cama, com frio, com chuva, ou debaixo do “estúpido”calor do Verão, sempre que o toque aflito da sirene os chamava.

O silvo que percorria o ar mexia com todos, que se perguntavam numa tentativa de adivinhar a causa da aflição. Quem está a precisar de ajuda? Se o toque era demorado e parecia interminável, era pela simples razão de que o “bombeiral” não tinha saído do quartel e isso aumentava a ansiedade de todos. “Três toques”, era acidente, dizia a “sabedoria” popular, mas, nem sempre era assim.
Rápido a pedalar na sua bicicleta roda 28, passava o saudoso “Monarca” a caminho do quartel, gatilhando a campainha de metal que avisava para deixarem passar o homem que seguia em socorro de quem dele precisava. A bicicleta entrava, à pressa, no antigo quartel e ai deixada até, sabe-se lá quando. Pintadas de rubra cor, as letras dispostas em semi-círculo sobre o portão largo de metal, identificavam a associação dos Bombeiros Voluntários de Almeirim.

O autotanque de marca estrangeira, potente mas lento, abençoado pela sua madrinha no dia inaugural, saia a caminho do local, carregado de água, de escadas e mangueiras e de homens que, sentados na viatura, ajeitavam as fardas e ajustavam o francelete dos capacetes de latão que o sol espelhava. A vibração e a excitação da azáfama junto ao quartel, passava aos mirones que por ali se juntavam, tentando obter informações sobre o acontecido.

Tratava-se de fogo no mato, coisa de pouca importância. Metade do autotanque chegava para estancar a fúria das chamas que, vencidas pela água lançada à pressão pelas mangueiras de lona seguradas, a pulso firme, pelo destemidos “soldados da paz”. Feito o rescaldo, era hora de arrumar o equipamento e regressar ao quartel, onde o desejado e justo banho retemperaria as forças. Era hora de arrumar o cinto e o machado e pousar o capacete que necessitava de estar impecavelmente areado para logo à noite… serviço de segurança ao cinema. No cartaz da sessão de sábado, às 21h30, iam passar os “Sete Indomáveis patifes”, na matiné de domingo “Trinitá Cowboy Insolente”… pancadaria bravia.

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