quinta-feira, 8 de julho de 2010

NÃO TEM NADA QUE SABER…









É andar com um pé no ar, e outro no chão a bater. Contava uma pessoa amiga da família, que viveu a coisa de perto, que um baile naquela época, por ser raro, incendiava os mais novos na expectativa de estarem bem junto a elas, pelo menos no mesmo espaço, embora algumas marcassem com braço firme a distância entre os peitos delas e botões da camisa deles.

Definidas as distâncias a mulher mantinha-se honrada nas suas virtudes de “casadoira”. Os bailaricos eram, portanto, o pretexto para os homens se aproximarem das mulheres e essa proximidade era, incondicionalmente, definida por elas.

O anúncio corria rápido entre os jovens, sabendo-se que, para haver “baile” era preciso arranjar tocador, mas também, que o mesmo estivesse disposto a actuar. Do cachet não fazemos ideia, talvez fosse ajustado se houvesse consumo no “bar”, explorado a favor do artista-músico. O local era parte de um quintal no Pupo, onde as galinhas, descaradas, debicavam o chão à procura de, não sei bem o quê. Talvez apenas grãos de areia fina que ajudassem a moela na sua função digestiva. À parte disso, havia espaço suficiente para rodopiarem umas modas ao som da monocórdica concertina de botões. O evento tomava o nome do tocador da concertina e a questão era colocada da seguinte forma, vais ao baile do “Levezinho”? Já nem era preciso perguntar onde, pois era por demais conhecido. Custava a crer, sendo o repertório fraco, como seria possível ao mestre concertista, manter a malta firme, sem arredar pé. Talvez os “bolinhos secos de taberna” e a ginjinha caseira fizessem a outra parte, pois música, era coisa que saia a custo por entre os botões de madrepérola. Contava-se, que alguns dos ditos, impulsionados pelas molas que os faziam voltar à posição de “descanso” e espevitados pelos requebros do tocador, se soltavam do conjunto e, uma vez por terra, serviam de entretêm às galinhas.

Lembramos este velho músico, de ar simpático, com a sua caixa de madeira de fole musical à porta do café do bairro, tentando, a pedido dos presentes, recordar as melodias que deliciaram os mais velhos. Recordamo-lo sentado numa cadeira, cá fora, na terra batida da rua, percorrendo a custo a “escala” da velha concertina.

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